sexta-feira, 9 de julho de 2010

PROFESSORA NEURÓTICA, AULA MALUCA, ALUNOS EM PÂNICO.

Se nunca falaram isso de você é porque talvez você nunca tenha dado motivos. Então, ai vai um bom motivo.
Em minhas aulas de teatro procuro ser criativa, mas há uma em especial que produz os efeitos mais incríveis e os comentários mais maldosos.
Aprendi essa técnica, entre muitas outras, no curso de contação de histórias de Vânia Dohme. Fui adaptando para meu modo de trabalhar e transformei em aula de teatro. É uma preparação para um trabalho posterior que envolva toda a sala. Tem dado bons resultados.
Antes de levar a proposta para a sala procure saber se na turma há alguém com problemas cardíacos ou algo parecido. Aula maluca sim, assassinato, não.
Avise a turma de que será uma experiência que mexerá com seus nervos, que em outras salas houve aluno que chorou, que fez xixi na calça, que passou a ter pesadelos. Claro que isso é um tremendo exagero, mas servirá de alerta e, principalmente, despertará o interesse da moçada.
Procure ou invente uma história emocionante. Uma aventura que comece num lindo dia ensolarado, cheio de flores e borboletas, no estilo Barbie e os Ursinhos Carinhosos. A história deve caminhar até uma noite de tempestade onde o único esconderijo é: uma caverna, uma velha mina, uma casa abandonada, a capela de um cemitério ou um castelo em ruínas. Lá dentro há um vulto que você não consegue definir. Você tenta encontrar a saída quando de repente... ahhh!!! (treine bastante em casa para, nessa hora, soltar um grito apavorante).
A história não deve ser longa, porém, cheia de detalhes.
Separe a turma em três grupos. Um grupo, composto pelos quietinhos e metidos a intelectuais, que vai observar o desenvolvimento da atividade, anotar o que for necessário, para trabalhar na montagem e direção de um trabalho posterior. O segundo grupo, formado pelos “faz-tudo”, vai te dar apoio usando o material que você preparou e será orientado à parte, em segredo. Esse grupo ficará responsável pelo cenário, efeitos de som e iluminação no trabalho posterior criado pelo grupo um. E o último grupo, que futuramente formará o corpo de atores, deve ser formado pelos mais sensíveis e tagarelas.
O terceiro grupo deverá permanecer sentado em duas fileiras de cadeiras de frente uma para outra formando um corredor entre elas. Detalhe: Com os olhos vendados. Os alunos que estão sentados não podem tirar a venda, se levantar ou movimentar os braços.
Você vai narrando a história enquanto o grupo de apoio vai passando por entre as fileiras de cadeiras usando o material que você disponibilizou. Você vai montar a história em cima desse material. Se você tem um apito que imita passarinho, então haverá passarinhos na sua história. Se você tem uma chapa de metal que produz som de trovão, então haverá trovões na sua história.
Para um jardim florido, use Bom-Ar, para chuva e cachoeira use spray com água, para vento use leques, para som de chuva despeje arroz numa tigela ou amasse sacolinhas de supermercado, para galhos e folhas secas amasse copinhos descartáveis, para teias de aranha use uma echarpe de sêda ou fios de lã ou tiras de sacolinha amarradas em fila num palito de churrasco. Crie, invente. A sua equipe pode rosnar, latir, miar, uivar, gemer, sussurrar.
IMPORTANTE: Ninguém deve falar durante a história, exceto você.
A história termina no grito. Ninguém fica sabendo o que havia no escuro. Porque os monstros têm a forma que damos a eles. Cada um cria o seu.
Entre explicações, dividir a sala em grupos, orientar a equipe de apoio, posicionar o terceiro grupo, dispor os objetos sobre uma mesa ou balcão, contar a história, recolher os objetos, fazer a chamada e reorganizar a sala você terá 50 minutos. Por isso, observe e faça a seleção dos alunos em aulas anteriores, mas não conte a eles. Peça ao grupo um que organize as cadeiras e vende os colegas do grupo três enquanto você sai da sala para orientar o grupo dois. Coloque o João Victor ou o Matheus (toda sala tem um) para vigiar a porta e não deixar que a aula seja interrompida por NINGUÉM (eles adoram isso).
Depois do grito, ou melhor, dos gritos, peça aos alunos que estavam vendados que contem as sensações que tiveram e o que cada um achou que havia na escuridão.
Na próxima aula fale sobre a narrativa de Orson Welles da história de ficção Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, disponível em: www.ceticismoabert.com/panico.
Fica aí uma sugestão para o próximo Halloween
Qualquer dúvida, mande um e-mail para veravaltingojer@ig.com.br

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