
Quando entrei para a faculdade de arte contei com o apoio da minha família e de muitos amigos, mas teve gente que torceu o nariz como se eu estivesse fazendo algo imoral. Isso não aconteceu só comigo. Um dia, na faculdade, uma colega da minha idade me disse que uma pessoa comum a nós duas havia dito que deveríamos continuar “pilotando fogão” e pensando em netos ao invés de correr atrás de “bobagens”. O mais incrível é que foi pilotando fogão que muitas de nós conseguiram se formar. Eu e minha filha vendíamos pão caseiro, a Nice vendia quindim, a Patrícia vendia brigadeiro, a Priscila vendia pão de mel e a Cleuza vendia lingüiça. Todas nós vestimos a beca e subimos naquele palco de cabeça erguida. Recebemos o canudo ao som de merecidas palmas e,como profissionais competentes, conquistamos o respeito da comunidade e nosso espaço no mercado de trabalho. Pilotar fogão é uma honra. Pilotos são audazes, têm visão longa, estão sempre indo a algum lugar, têm história pra contar, seguem sempre em frente, estão sempre de olho no futuro e em busca de novidades, às vezes carregam fardos pesados, são invejados por quem permanece inerte e, em seu caminho, deixam muita gente para trás. Foi pilotando fogão que cheguei até aqui e com ele sigo rumo ao mestrado. Quando entro em minha cozinha ouço a voz de Renato Teixeira dizendo: “Eu conheço cada palmo desse chão, é só me mostrar qual é a direção”. Afinal, meu fogão é pilotado por mim e guiado por Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário